sexta-feira, 29 de abril de 2011

O QUE SUA CÂMERA REGISTRA?

"Não fazemos uma foto apenas com uma câmera;
ao ato de fotografar trazemos todos os livros que lemos,
os filmes que vimos, a música que ouvimos,
as pessoas que amamos."
Ansel Adams


A fotografia é uma arte interessante, da qual eu pouco entendo. Mas gosto muito de fotos, gosto de fotos que conseguem captar a essência do momento, que conseguem transmitir, de alguma forma, a beleza - doce ou amarga -, as emoções presentes no instante. Fotos registram momentos, cores, nuances, que muitas vezes se perdem no momento seguinte e são mantidas, ao menos, na imagem.

Quando revemos fotos antigas, somos tomados de emoções: revivemos os momentos, memórias voltam trazendo sentimentos, cheiros, sabores, texturas. Talvez seja por isso que registramos os momentos em fotos. São diversas as nossas reações diante das fotos: algumas vezes, não conseguimos entender como podemos ter usado determinados trajes ou como éramos felizes com aquele infeliz corte de cabelo. Ficamos felizes, outras vezs, porque nos percebemos hoje mais bonitos ou mais elegantes. Algumas vezes, no entanto, nos lamentamos pelos quilinhos que ganhamos, e refletimos sobre as mudanças que os anos trouxeram desde o registro da foto.

Fiquei pensando hoje sobre o nosso mecanismo interior (nada tecnológico, porém muito eficiente) que registra o que as fotos não captam: que momentos registramos e arquivamos na mente, como montamos álbuns mentais com imagens, momentos, sentimentos, que retornam e são revisitados com frequência por nós.

Tantas memórias boas voltam, por exemplo, diante de um objeto qualquer quando o voltamos a ver - um brinquedo de infância, a roupa preferida do passado, um local.   E tantas memórias ruins também voltam, trazendo flashes mentais que se assemelham a fotos que só nós podemos ver, individualmente, álbuns que não podemos compartilhar em essência e integridade.

São profundos os mecanismos da nossa mente. E muito eficientes.  Por isso, compreendo cada vez mais a necessidade de controlar o que nossa 'câmera' mental capta, registra e arquiva. Precisamos nos tornar 'fotógrafos' mais inteligentes e mais amigos de nós mesmos, buscando apagar os álbuns mentais de memórias negativas que retornam trazendo sentimentos que não nos fazem bem. Que essas imagens mentais possam ser rasgadas, descartadas, apagadas. E que as boas memórias possam ser mantidas, como tesouros, em esplêndidos álbuns que possam nos lembrar de coisas belas: como somos amados, abençoados, agraciados pela vida e pelos que nos cercam.


O melhor álbum de fotografia é a nossa memória, nela ficam gravadas fotos reais de momentos bons e ruins de nossa vida. (Márcia Reis)

LENTES E VISÕES

"A visão é o tato do espírito." (Fernando Pessoa)

Eu uso óculos, lentes que me ajudam a ver o mundo de forma mais nítida. Miopia. Com os óculos, vejo melhor as formas, as cores, reconheço pessoas à distância, tenho acesso a coisas que, sem as lentes, me passam despercebidas. Uma pequena ajuda para meus olhos.

Mas, para os olhos do coração, não há lojas especializadas. Não há como examinar de forma tão eficiente nosso coração por uma máquina e determinar qual é o grau de 'miopia' ou outra patologia que nos impeça de ver o mundo de forma melhor.  Nossos humanos corações, quase sempre enxergam mal. Enxergamos como importantes as coisas palpáveis, as coisas adquiríveis no shopping, as coisas mais caras e produzidas em pequena escala.

Esse tipo de 'distúrbio visual' nos impede de ver a beleza que está à nossa volta e de ver aquilo que realmente importa:  que não se compra, o que não está à venda, o que não se pode ser substituído. E também nos impede de ver onde a sujeira está, onde estão nossas falhas, por que continuamos errando, sofrendo e causando sofrimento a outras pessoas.

Não há lentes à venda para fazer esse tipo de correção. Apenas nós podemos encontrá-las e há para tudo que precisarmos: lentes da confiança, da solidariedade, da amizade, do trabalho, da dignidade, da paciência, do compromisso...

Só corrigimos esse tipo de falha na visão pela busca constante da consciência, do amor e do bem maior. Pelas lentes do amor, vemos com perfeição.  Com as lentes da consciência, vemos com nitidez. E, acredite em mim, o mundo é muito mais belo e colorido quando vemos através das lentes certas.


É apenas com o coração  que se pode ver direito; o essencial é invisível aos olhos.
Antoine De Saint Exupery