sexta-feira, 6 de maio de 2011

INTEGRIDADE



Observando os fatos diários, reflito sobre como é difícil manter a integridade.


No trabalho que não nos valoriza como profissionais, que nos desafia e nos desestimula, que beneficia os menos comprometidos, e mesmo diante de colegas negligentes que não fazem o que lhes é cabido, é difícil manter a integridade.



Com os amigos que muitas vezes perdem a noção do limite do respeito, da solidariedade, ou da privacidade, quando situações que nos desagradam acontecem, também é difícil manter a integridade.


Na rua,  diante da má educação dos transeuntes que desconhecem a função de uma lixeira ou  no trânsito diante de motoristas desrespeitosos e inconsequentes, é difícil manter a integridade.


Vivendo em um mundo que estimula o consumismo, a superficialidade, o imediatismo e a descartabilidade, é difícil manter a integridade.


Em casa, com a família, com os próximos mais próximos, diante dos desentendimentos diários, da falta de paciência e colaboração, é difícil manter a integridade.


Numa vida de privações em que falta o mínimo para a sobrevivência, em que os filhos choram de forme, é difícil, muito difícil manter a integridade.


Diante de atos brutais de violência gratuita e desnecessária, contra inocentes e pessoas indefesas, é difícil manter a integridade.


Perante os 'nãos' que nos são oferecidos diariamente, dos desejos não realizados, de verdades ditas de forma rude ou diante de uma ofensa, é difícil manter a integridade.


A doença, a debilidade física e mental causam dores no corpo e na alma e, assim, é difícil manter a integridade.


Mas, vivendo uma vida tranquila, com trabalho, com família, com amigos, respeito e conforto, ainda assim é difícil manter a integridade.


A integridade é algo que se perde facilmente se ainda somos seres em evolução. Mas não entenda integridade apenas no sentido de honestidade.


Manter-se íntegro é manter-se inteiro, não ser abalado fortemente por problemas, palavras e circunstâncias ruins. Manter-se íntegro é não perder a fé, a paz, a tranquilidade, o respeito, a honestidade, a pureza, a paciência, a alegria e a benevolência diante de situações desfavoráveis.


É fácil ser honesto quando não há possibilidade de não o ser. É fácil ser fiel se vivemos trancados a sete chaves, é fácil ser bom com aquele que sempre dá o que pedimos e queremos, com aquele que só nos diz doces palavras.

 

Não, não é fácil manter a integridade quando a ofensa fustiga, a fome devora, o desrespeito avança, a indiferença existe. Mas, é preciso.



Ontem mesmo minha mãe me contou uma história que ouviu um palestrante religioso contando em uma de suas pregações: 


Todas as manhãs um senhor idoso descia do ônibus ônibus lotado em frente a uma loja de presentes. Com cuidado escolhia um presente para mulher, pagava, agradecia e atravessava a rua, e entrava na clínica de repouso que ficava na frente da loja. Certo dia, a balconista da loja que sempre o atendia, perguntou-lhe:


- Desculpe-me pela curiosidade, mas o que o  senhor faz todo dia nessa clínica, depois de comprar um presente?

-  Minha esposa está internada aí. Ela tem o mal de Alzheimer.


- Oh, lamento muito. E como ela está?


- Não está muito bem. Está com a memória bastante prejudicada. Já nem me reconhece mais.


- Mesmo assim o senhor vem neste ônibus lotado todos os dias, compra um presente e vai visitá-la?


- Sim.


- Mas, se ela já não o reconhece mais, nem se lembra das coisas, porque o senhor ainda vem todos os dias?


- Ela já não sabe quem eu sou, mas eu sei quem ela é. Ela não se lembra mais das coisas, mas eu jamais me esquecerei dela.

Era disso que eu falava, manter a integridade apesar de todos os motivos para não fazê-lo.

Manter a integridade não é fácil. Mas não é impossível. Pensemos nisso.



quarta-feira, 4 de maio de 2011

SABER RECEBER

Acordei hoje com a certeza de que devemos aprender a receber tudo como um presente. É um exercício útil, necessário, indispensável, fundamental. Mas não é fácil.

Dói muito em todos nós receber ingratidão, inimizade, desrespeito, falta de consideração, agressões, rejeição, ofensas ao invés do contrário, que nós nos imaginamos merecedores. E, na verdade, muitas vezes realmente somos merecedores do bem e de coisas melhores.

Há muito tempo, ouvi uma história que nunca esqueci, embora não tenha usado esse conhecimento da melhor forma, até agora.

Dizem que certa vez um pobre resolveu presentear um rico por ocasião do aniversário desse. Assim, tomou uma cesta, encheu-a de flores e foi ao palácio do rico, com o coração cheio de alegria e amor. Entregou o presente ao empregado que levou-o ao patrão, que por sua vez, do alto de sua soberba, orientou o funcionário a retribuir a cesta cheia de lixo, sujeiras, coisas apodrecidas. Assim fez o empregado: encheu a bandeja de sujeiras e devolveu-a ao pobre, dizendo ser a retribuição do patrão pelo presente. O pobre, cheio de humildade, agradeceu o estranho presente, acrescentando com um sorriso: "A gente dá aquilo que tem de melhor."

Também já li essa história contada de forma inversa, mas a ordem dos fatores não altera o  produto. O que importa é a lição. Precisamos aprender a dar o que nós temos de melhor. E, o mais importante: devemos aprender a recolher com amor e gratidão tudo aquilo que recebemos dos outros, julgando que se trata do melhor que a pessoa tem a nos oferecer no momento. Talvez seja uma variação do 'dar a outra face", de Jesus.

Se somos ou não merecedores da ingratidão ou do desrespeito, não importa. Importa ver tudo como um verdadeiro presente: como o melhor que o outro nos podia dar, como o melhor para o nosso crescimento e aprendizado no momento, como aquilo que, de forma consciente ou inconsciente, precisamos. Muitas vezes, o lixo que recebemos, pode ser transformado no adubo que nos faz crescer. Vamos pensar nisso e exercitar, pois não se trata de um exercício fácil, embora seja simples.

Aceitar o que vem, agradecer, devolver o nosso melhor (já que temos consciência para isso), desejando o bem, sempre. É um exercício que elimina a revolta e traz a paz ao coração. Isso também não quer dizer que devemos ser 'capachos' do outro. Trata-se apenas de respeitar a impossibilidade do outro ser melhor momentaneamente. Acredito que devemos evitar novas situações em que a pessoa possa ser levada a nos presentear infinitamente com as mesmas coisas.

E é disso que estou precisando no momento, então vou ali, exercitar um pouquinho mais.


Recolher pedras de ingratidão por pétalas de carinho é heroísmo de muitos.
Emmanuel