sexta-feira, 22 de julho de 2011

O JARDIM

Uma mulher passava por uma profunda tristeza, cultivando mágoas e dores, diante da vida cruel que a reduzia a pouco. Sua casa era escura, sem vida, sem perfume. Suas roupas expressavam a dor que lhe ia pela alma. Aos poucos, ela perdia a capacidade de sorrir diante das brincadeiras das crianças ou da espontaneidade do seu cachorrinho Foguete.
Um dia, na visita de um amigo querido, ouviu o conselho que mudaria sua vida:
- Margarida, a partir de hoje, cada vez que se sentir triste ou que uma mágoa se revolver na sua mente, você plantará uma flor.
E assim, sem ao menos pensar a respeito, ela simplesmente o fez. No primeiro dia, plantou quinze flores. Não foi fácil, pois, entre as plantas que ainda restavam na sua casa e no seu quintal, não havia muito o que plantar: faltavam mudas e sementes para tanto pensamento negativo. Ainda assim, encontrou um vasinho de violetas jogado a um canto, do qual recolheu três folhas e replantou em outros três vasinhos já desocupados. Colheu sementes de beijo-pintado e fez mais doze covinhas num canteirinho abandonado – a cada covinha plantada, um pensamento ruim havia passado anteriormente por sua cabeça.
No segundo dia, as dificuldades continuaram. O que plantar? Onde plantar? Começou a reaproveitar embalagens que iriam para o lixo: potinhos de iogurte, latas de creme de leite, e outras que poderiam servir. Começou a fazer testes, retirando  possíveis mudas dos pés de plantas que já existiam e estavam morrendo. Decidiu que recuperar uma flor que estivesse morrendo, também serviria para ‘pagar’ por um sentimento negativo.
Conforme os dias iam passando, a missão se transformou em diversão, sem que ela percebesse. Assim, começou a passear pelo bairro, pedindo mudas de flores às vizinhas, às vezes, até se arriscava a colher furtivamente nos jardins públicos sementes ou galhos que seriam replantados, posteriormente, no próprio quintal.
O quintal, antes sem vida, começou a ser organizado como um jardim. À noite, ao se deitar, ela idealizava a distribuição das flores, por cores e formas, e no dia seguinte, tentava executar a risca os planos traçados mentalmente. Começou a frequentar o viveiro do bairro. Lá descobria novas espécies e se apaixonou definitivamente pelas flores, que agora, incluíam folhagens, gramíneas, arvorezinhas e todo tipo de plantinha ornamental que se possa imaginar.
Agora, as flores estavam por toda parte. Dentro de casa, sobre as estantes, nos cantos, penduradas nos ganchos. Passou a ler e aprender os nomes científicos e populares: Impatiens walleriana, Moréia-bicolor, Azaleia, Ixora coccínea.
Assim, quando já não havia espaço no próprio quintal, já todo tomado pelo jardim multicor, ela começou a plantar um jardim no terreno baldio ao lado da própria casa. Ao fim de alguns meses, ambos os jardins reluziam em cores, nuances e formas.
Como todos observavam, e os jardins da Margarida eram comentados por toda a cidade, uma emissora de TV se interessou em mostrar a história. Assim, perguntaram a ela como surgiu a ideia do jardim e o que ela usava como adubo para que as flores ficassem tão belas e florissem o ano todo, ignorando as estações. Ela, pela primeira vez em meses, se deu conta de que havia esquecido completamente o motivo que a fizera começar o plantio das flores. Simplesmente percebeu que as dores se foram, as mágoas também, deixando apenas beleza. Bem posicionada para a câmera registrar ao fundo o jardim tão belo, trajando um vestido colorido, cujas flores pareciam saltar do próprio jardim, não querendo decepcionar a audiência, respondeu sutilmente ocultando a verdade:
- Esse jardim nasceu de uma linda história e o adubo usado foi o amor.

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