quinta-feira, 21 de julho de 2011

PRATICANDO O DESAPEGO



Sempre vi a aceitação como uma ferramenta de grande utilidade para a nossa vida. Aceitar a vida e a morte, aceitar o momento, aceitar o não, aceitar o trabalho, aceitar...

Quando não sabemos aceitar, nos debatemos, nos revoltamos, nos machucamos, nos agarramos a coisas, situações ou pessoas, sem permitir o curso natural da vida.

Vemos tantas pessoas deprimidas porque foram traídas, outras revoltadas pela dificuldade que bate à porta, outras renegando Deus ou qualquer outra crença na divindade, porque não aceitam o fim da vida de um ente querido. Os motivos são inúmeros, possibilidades diversas, mas uma coisa em comum: a não aceitação.

Minha didática mente de professora, cultivada pela necessidade, faz com que eu veja o apego como um dos impecilhos para a aceitação. Por apego nos negamos a aceitar situações que não nos agradam, ainda que tenhamos a consciência de que posteriormente o resultado será positivo.

E o apego é aprendido, pois desde a nossa infância somos estimulados a isso. Todo o tempo nos ensinam a sermos apegados aos nossos familiares, aos nossos objetos. Quando cometemos um erro, somos punidos quando retiram de nós o objeto do nosso apego: o brinquedo, a companhia dos amigos, a TV. E assim crescemos, nos apegando e imaginando que a punição é a retirada do objeto do nosso desejo.

Pessoas se apegam ao casamento (e quaisquer tipos de relacionamento), não importando se há felicidade, se há respeito. Simplesmente não se aceita  o fim do relacionamento por apego.

Não aceitamos a morte de um ente, mesmo acreditando que a vida continua, ou que Deus o receberá em seu reino de amor.

Mas como exercitar o desapego? Cada pessoa deve criar seus próprios antídodos.
Entender que cultivamos memórias que nos aprisionam, é um bom começo. Entender que o apego é quase sempre um cárcere que criamos para nós e que ele se opõe à aceitação, à resignação e ao respeito pela vida também é de utilidade. Compreender que vida é impermanência - as coisas mudam todo o tempo e nisso a beleza está. A impermanência, além de um fato, é uma ferramenta para o nosso crescimento. Com ela, aprendemos a nos desapegar, a valorizar o que há de bom enquanto há oportunidade, aprendemos a sofrer menos com as dificuldades porque sabemos que serão passageiras.

Exercitar a aceitação, buscando tirar o melhor proveito de tudo o que vivemos é, sem dúvida, um dos melhores caminhos para o crescimento e a evolução, lembrando que essa aceitação nada tem a ver com o comodismo, com a falta de iniciativa, com a exagerada passividade. Afinal, tudo em excesso é prejudicial.


Considerando-se a impermanência de tudo, em um mundo em constantes alterações, o apego representa a ilusão para deter a marcha dos acontecimentos e reter tudo mais, impossibilitando o surgimento da realidade.
(Joanna de Ângelis)




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