sábado, 26 de fevereiro de 2011

AMOR ALÉM DA VIDA


O filme Amor Além da Vida (When Dreams May Come) de 1998, com Robin Williams, é um filme fabuloso. Confesso que está entre os meus preferidos. Pode parecer coisa de mulherzinha, talvez até seja, mas vou me explicar.

Para quem não sabe do que se trata, permito-me copiar a sinopse disponibilizada no Interfilmes:



Chris Nielsen, Annie,sua esposa, e os filhos do casal fazem uma família feliz. Mas os jovens morrem em um acidente e o casal é bastante afetado, principalmente Annie. No entanto, eles superam a morte dos filhos e conseguem levar suas vidas adiante, mas quatro anos depois é a vez de Chris morrer em um acidente e ser mandado para o Paraíso. Mas não um Céu com arcanjos e harpas, pois lá cada um tem um universo particular e o dele é uma pintura (sua mulher coordenava uma galeria de arte). Enquanto tenta entender o Paraíso, onde tudo pode acontecer, bastando que apenas deseje realmente, Chris fica sabendo que Annie, dominada pela dor, comete suicídio. Assim, ele nunca poderá encontrá-la, pois os suicidas são mandados para outro lugar. Mesmo assim decide tentar achá-la, apesar de ser avisado que mesmo que a encontre, ela nunca o reconhecerá.
Todos nós devemos desejar um amor assim. Sem idealismos, no entanto. Não, não é impossível, nem incoerente. Explico-me.
Todos nós merecemos um amor que seja capaz de atravessar o inferno por nós. Mas não entenda o atravessar o inferno literalmente. Atravessar o inferno é muito mais simples do que pode parecer, porque o inferno está dentro de nós, cada um tem seu inferno pessoal.
Atravessar o inferno é  enfrentar as dificuldades por amor. É superar uma dificuldade pequena como passar algumas horas nos auxiliando nas compras no supermercado, mas é um inferno para quem não gosta disso.  É superar o medo do dentista,  não porque a saúde dos dentes é importante, mas porque nós insistimos para que a pessoas cuide dos dentes. 
Enfrentar o inferno, não significa realmente ter que morrer e ir resgatar o outro na casa do demônio. Significa enfrentar, todos os dias, o demônio interno: as dores, os medos, as incapacidades, as limitações. Porque o amor é grandioso, poderoso e ilimitado. Com amor, a dor se abranda, os medos dão lugar à coragem, as incapacidades e limitações revelam-se inexistentes. Porque o amor tudo pode, tudo suporta.
Eu pensava que atravessar o inferno por alguém, é fazer coisas que não faríamos por nós mesmos, e encontrar no amor e na pessoa amada o motivo para superar dificuldades, enfrentar dores, medos, limitações. É fazer por alguém, quando os outros motivos não conseguem ser mais significativos. Mas agora penso que atravessar o inferno por alguém é fazer o que faríamos por nós mesmos, e só então fazer o que nem por nós faríamos. E, a partir daí, não há limites.
Uma mulher é capaz dos maiores sacrifícios por amor. Nós renunciamos aos amigos e à família. Nós superamos traumas, dificuldades, limitações para dar ao outro, objeto do nosso amor, o conforto, o cuidado, o carinho, a compreensão, o consolo que acreditamos que ele merece. Isso é do instinto feminino. Mas nem só as mulheres são capazes, todos são. Porque o amor não vem no pacote feminino. O amor é instintivo no ser humano, mas nem por isso não precisa ser desenvolvido.
Se você já sabe atravessar o inferno pelo outro, agora precisa saber a hora de parar.
Sim, mesmo aquele que conseguiu enfrentar o inferno, precisa saber a hora de parar. Não porque há um limite para o poder do amor, mas porque trata-se de respeitar as escolhas do outro.  Enfrente o inferno por quem valoriza a sua travessia, por quem está aberto à renovação, à vida, à felicidade simples do dia a dia.
Muitas vezes, enfrentamos o inferno por quem prefere o inferno a nós. Se a escolha do outro é o inferno, o seu próprio e o nosso, temos que saber respeitar a escolha, mas não somos obrigados a fazer parte.
Cada ser é único e não é pelo amor que devemos renunciar ao que nós somos, à nossa vida plena, para viver juntos e infelizes no limbo. O amor só cresce, floresce, prospera e vigora em um ambiente bonito, limpo, claro e saudável. O inferno é para ser atravessado, mas não deve ser o lar de ninguém. Quando alguém escolhe viver no inferno, ao invés de atravessá-lo, não está escolhendo o amor. E por amor, mesmo que seja amor próprio, devemos renunciar ao inferno.
Compreenda,  seja capaz de ver e identificar isso. E siga para o paraíso, porque só merece o inferno quem por ele escolhe.


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